Início / Monumentos / Igreja de Santa Maria
A estética nacionalista defendida no Estado Novo ao longo da década de 30, entra em declínio nos anos 40, sofrendo um forte abalo no I Congresso Nacional de Arquitetura, em 1948, o qual resultou «numa retumbante vitória das teses modernas pugnando, no seu conjunto, por uma racionalidade urbanística e arquitetónica».
Ao longo das décadas de 50 e 60 do século XX generaliza-se o modelo da arquitetura de “linha reta”, facilmente articulável com as necessidades simplificadoras, estandardizastes e geométricas dos materiais modernos (nomeadamente o betão armado).
No que concerne à arquitetura religiosa, o II Concilio Vaticano, ocorrido em 1960, durante o pontificado de João XXIII, anuncia uma renovada relação entre a igreja e a arte, prevendo-se a revisão de determinações e cânones eclesiásticos referentes à representação material da Igreja, decretando uma «construção funcional e digna dos edifícios Sagrados», incentivando-se o recurso a cânones contemporâneos. Como pode ler-se: «Seja também cultivada na Igreja a arte do nosso tempo, a arte de todos os povos e regiões, desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos edifícios e ritos sagrados».
Tendo por sustentação teológica as premissas emanadas do II Concílio, irrompe em Portugal uma corrente arquitetónica religiosa que propõe uma arte de cariz eclesial e pastoral denominado Movimento de Renovação da Arte Religiosa (movimento crítico no seio da Igreja). Criado no outono de 1952, na sua maioria por arquitetos recém-formados, e por alunos da Escola de Belas Artes de Lisboa, este Movimento opunha-se aos modelos arquitetónicos religiosos tradicionais e ao estilo neomedieval, pugnando pelo funcionalismo litúrgico, por um espaço comunitário para reunião da assembleia de fiéis, por um equipamento aberto e participado, com recurso a materiais de construção inovadores, e pela inserção da Igreja no planeamento urbanístico. Em suma, advogava a edificação de um Centro Paroquial, na verdadeira aceção da palavra, em oposição à Igreja – Templo.
Em 1953, o Movimento de Renovação da Arte Religiosa apresenta as suas inovadoras propostas na Exposição de Arquitetura Religiosa Contemporânea, primeiramente na galeria anexa à Igreja de São Nicolau, em Lisboa, e depois, adquirindo carácter itinerante, percorre o país.
No final dos anos 50, princípios de 60, do século XX, a edificação de igrejas no Barreiro era da competência do Patriarcado de Lisboa, o qual demonstrava intenções em projetar novos edifícios e restaurar os já existentes. Desde 1956 encontrava-se aprovado para o Concelho do Barreiro, pelo Ministério das Obras Públicas, Direção-Geral dos Serviços de Urbanização de Setúbal, um plano geral de edificação e reedificação de edifícios religiosos, no qual se incluía a Igreja de Santa Maria, a edificar na parte nova da vila, na freguesia do Barreiro, para servir 22.190 habitantes.
A 31 de dezembro de 1958, o Ministério das Obras Públicas aprova uma comparticipação financeira no valor de 1.250 contos para a construção da Igreja de Santa Maria, a qual seria projetada para a Quinta do Bráz. Tendo conhecimento da localização da futura Igreja as famílias Bráz e Rocio «Resolveram, num gesto de elevado significado e de alta generosidade, doar ao Patriarcado toda a área do terreno destinado à implantação do novo lugar de culto, num total de 700 metros quadrados».
O projeto da nova Igreja Paroquial do Barreiro, de 1959, ficou a cargo do arquiteto Joaquim Cabeça Padrão, do engenheiro civil Brito Pantoja, do agente técnico de engenharia civil Henrique Niza, e a eletricidade sob a responsabilidade de Raposo de Oliveira e Phillips.
O programa construtivo desenvolvia-se em três áreas distintas:
A área envolvente a urbanizar segundo o projeto, consistia na «Abertura de uma larga a (sic) avenida (30 m.) – Avenida de Santa Maria –, a qual ligará o adro desta igreja, 100 M. X 90 m. com uma das artérias principais desta VILA (Rua Miguel Bombarda). (…) Deverá procurar-se que todas as construções feitas neste local tenham um nível arquitetónico tal que não possam destoar, quer na forma, quer no volume, quer na côr, (sic) da igreja que se projeta, a qual deverá ser o centro principal desta composição.»
A 24 de maio de 1959 deu-se a cerimónia de lançamento da 1ª pedra junto de uma cruz que assinalava o futuro altar-mor. Acompanharam a cerimónia, em representação do Cardeal Patriarca de Lisboa, o Arcebispo de Mitilene, D. Manuel dos Santos Rocha, e em representação do Ministro das Obras Públicas, o dr. Miguel Rodrigues Bastos, chefe do distrito de Setúbal.
A par da construção da Igreja, foram sendo realizados variados eventos, com o intuito de angariação de fundos para o novo templo. Contudo, a construção do templo não ficou alheia a críticas quer na composição arquitetónica, quer quanto às necessidades construtivas do concelho. No Jornal do Barreiro, de 12 de maio de 1960, escrevia-se: «É certo que alguns têm recusado a sua colaboração (na edificação da Igreja de Santa Maria) baseando-se em que haveria outras obras mais urgentes a realizar como seria, por exemplo, a construção de casas para os pobres. Quem invoca argumentos destes para justificar a sua não colaboração é maldoso ou disfarça o seu egoísmo; a sua incapacidade para pôr o coração ao serviço dos outros.»
A 4 de junho de 1961, a Igreja acolhe o primeiro ato religioso, uma missa oficiada pelo Arcebispo de Mitilene e Vigário-Geral do Patriarcado, D. Manuel dos Santos Rocha.
Ideada em 1959, a Igreja de Santa Maria, no Barreiro, apresenta um projeto com “sentido urbano”. Inserida numa nova área urbana, teve por objetivo reunir uma numerosa comunidade de fiéis, quer no seu interior, quer no seu exterior: «A nave central com 560 lugares sentados, é ainda acrescentada com a nave do transepto (326 lugares sentados) e nela se coloca o coro e órgão que possam eventualmente acompanhar as cerimónias litúrgicas. (…). O (…) Pórtico eleva-se dos anexos da Igreja, de modo a permitir ser estrado para a celebração de missas campais com os fiéis agrupados no adro. Do lado direito e em franca ligação com a nave maior, foi prevista uma pequena capela (100 lugares sentados) de Nossa Senhora de Fátima (sic), a qual servirá para as missas a que assiste menor número de fiéis, procurando-se assim atenuar o efeito de dispersão que resulta nas missas dadas em grandes naves com pequena assembleia».
Promovendo a reunião de todos os equipamentos necessários para a divulgação da palavra do Senhor, a Igreja de Santa Maria contempla os serviços paroquiais. Estes ocupam na planta espaços independentes do corpo principal da Igreja, porém não estanques. A intercomunicação entre os diferentes espaços dos serviços paroquiais, o corpo principal da Igreja e o exterior, pressagia a nova relação da Igreja com a assembleia de fiéis, que se quer mais participativa, aberta, compreensível e tangível. «Junto à Sacristia foi colocado o Cartório e o Arquivo. Foi também prevista uma pequena dependência para o arranjo de flores (…) Em perfeito isolamento, mas com ligação ao corpo central da Igreja como convém, foi prevista uma Capela funerária com sala de estar e W.C. Ela tem saída independente pelo Jardim – claustro, aonde se podem formar os cortejos de acompanhamento. Uma cortina de árvores tenta isolá-la das vistas do corpo escolar (…).»
O projeto associa ao “sentido urbano” o “sentido moderno” através da utilização de um novo material construtivo – o betão armado – e do recorrente aproveitamento da iluminação natural: «(…) É ainda iluminada por um grande vitral colocado no eixo da fachada principal e por janelas superiores (ventilação), além de 4 frestas no corpo do transepto, as quais destinam a reforçar a iluminação do altar.»
A Igreja de Santa Maria impõe-se pelas suas dimensões, podendo abrigar cerca de mil pessoas sentadas e pela sobriedade e despojamento ornamental. Compõe-se de três pisos: cave com sala de projeções; piso térreo onde se desenvolve o templo e piso superior reservado a serviços da Fábrica da Igreja. A planta do piso térreo compõe-se de pórtico, nártex, nave principal, transepto, altar-mor, batistério, sacristia, capela lateral, capela funerária e outras dependências. O corpo principal, que se eleva a 16 m. de altura, é antecedido de pórtico esculpido. No interior, do lado esquerdo do nártex está colocado o batistério. A pia batismal em mármore negro, em plano inferior, sugere a tradição das piscinas romanas. No lado oposto situa-se a Capela de Nossa Senhora de Fátima. No cruzamento da nave central com o transepto fica o altar-mor, eixo de toda a composição. A parede fundeira, em cantaria aparelhada geometrizada é iluminada por luz rasante, proveniente das janelas laterais.
Conclui-se, assim, que o “sentido urbano” do Projeto original adjetiva-se prático e acessível, em concordância com as premissas emanadas do II Concílio do Vaticano.
A Igreja de Santa Maria foi classificada como Monumento de Interesse Público em 23 de novembro de 2011.
Consulte a publicação em Diário da República, 2ª Série, de 20 de setembro de 2012.
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